sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Crítica de Teatro: Emilinha e Marlene

As atrizes Vanessa Gerbelli e Solange Badin são as protagonistas do musical 'Emilinha e Marlene', no Teatro Maison de France
As atrizes Vanessa Gerbelli e Solange Badin são as protagonistas do musical 'Emilinha e Marlene', no Teatro Maison de France


A consolidação do musical como um dos gêneros preferidos do público carioca nos últimos anos ampliou muito a oferta de espetáculos desse tipo no mercado de produção de teatro da cidade. Mais recentemente, o musical baseado em biografias ou em trajetórias individuais de conhecidos cantores e compositores vem subindo com frequência aos palcos e se destacando como um grande filão.  Isso, contudo, não significa que esse subgênero produza montagens muito semelhantes entre si ou que siga rigorosamente uma determinada cartilha. Ele apresenta tendências dominantes, como o esforço de fazer uso dramatúrgico de canções já conhecidas, integrando-as a um material criativo novo, na tentativa de atingir a memória emocional da platéia.  Esse é, em parte, o caso de Emilinha e Marlene, espetáculo que vem, desde o início de sua temporada, atraindo bom público ao Teatro Maison de France ao mostrar o percurso artístico de figuras emblemáticas da chamada era de ouro do rádio brasileiro: Emilinha Borba e Marlene, cantoras que traziam multidões às ruas e às portas da Rádio Nacional, onde se projetaram como grandes intérpretes, principalmente no período entre 1940 e 1950.
Partindo de uma situação um tanto artificial em termos de dramaturgia: irmãs que sempre se dividiram no amor e na admiração às duas cantoras recordam-se de seus tempos de juventude e da trajetória de sucesso empreendida pelas duas grandes personalidades do rádio, o texto de Thereza Falcão e Júlio Fischer se estrutura sobre o flashback, que atualiza e narra de maneira linear o desenvolvimento das carreiras de Emilinha e Marlene, abrindo espaço para a inserção das canções de sucesso da época, tão aguardadas pela platéia.  Temos aí a escolha de um tipo de estrutura que privilegia a abordagem das personagens a partir de sua relação com um painel histórico maior, sem que se busque um aprofundamento psicológico.  O que aparece em cena, na maior parte do espetáculo, é o desenho das artistas traçado dentro de uma lógica exterior, como se fosse o resultado da observação pura e simples das figuras públicas e não das mulheres por trás das cantoras.  O diálogo entre as irmãs, por conseguinte, apenas costura os acontecimentos, tornando-se por vezes muito narrativo/descritivo, o que acaba por resultar um peso para o espetáculo como um todo.
A direção de Antônio de Bonis opta por trabalhar com um cenário muito simples, formado por alguns baús, fotos e cadeiras, privilegiando, principalmente, a funcionalidade do espaço para que se facilite a realização dos números musicais, que, em geral, alcançam bom nível e acabam se transformando na razão de ser da peça, ainda que se tornem excessivos.   Os figurinos, apesar de um tanto exagerados em determinados momentos, buscam  reproduzir com alguma fidelidade as roupas usadas pelas cantoras em seus shows. A atuação da principal dupla de atrizes, Vanessa Gerbelli e Solange Badin, é o que de melhor o espetáculo apresenta, pois ambas realizam bem a tarefa de reviver Emilinha e Marlene, conseguindo criar personagens que estabelecem empatia imediata com o público. A iluminação também contribui de maneira positiva para a peça, pois separa com propriedade os diferentes universos temporais e espaciais.
Emilinha e Marlene parece ser uma montagem concebida para agradar a um determinado tipo de platéia: aquela que se lembra com saudade da era de ouro do rádio brasileiro.  E esse objetivo é bem alcançado.  No entanto, para aqueles que não acompanharam esse período da vida musical brasileira, fica faltando uma dramaticidade mais pungente.

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